Acorde Filosófico
Existiu um
momento em minha vida em que comecei a questionar minha existência. Período
onde muitas perguntas surgiram em minha mente onde as respostas não satisfaziam
minhas dúvidas, minhas ansiedades, minhas angústias. Existe um momento em que
você precisa encontrar uma razão, um motivo, um porque. Então, como forma de
expressão escolhi a palavra, como companhia para as minhas reflexões. Minha
surpresa foi a produção de longos textos e a descoberta de uma habilidade: a
escrita.
Mas essa
escrita não fazia tanto sentido assim, solitária. Fazer companhia somente a mim
parecia-me um pouco egoísta. Assim, comecei a publicar os meus textos, expor-me
a crítica alheia e interagir com o mundo através deste blog. O resultado me
agradou. Comentários, elogios, algumas críticas, oportunidades e o melhor,
tornar-me sensível a ponto de tocar o outro pela gentileza.
Esse processo
de escrever, de ser lido, e receber algo em troca não respondeu minhas
perguntas iniciais. E isso não foi ruim. Pelo contrário, a descoberta de novos
caminhos, novos horizontes e possibilidades me fizeram enxergar que minhas
questões eram importantes. As questões eram importantes, as respostas ... Talvez
não seja necessário nenhuma dessas respostas.
Apropriei-me desta
habilidade. Antes para questionar, deliberar e rebelar, agora uso para tocar,
expor, experimentar. O discurso mudou de tema, o assunto ainda é a aventura
humana neste mundo, mas a simplicidade dos encontros é o principal. Consegui
acalmar aquela inquietude juvenil, fortaleci e me reergui. Voltei as minhas
atividades profissionais e adormeci a prática da escrita. Guardei com muito
carinho esse processo que me fez levantar a cabeça e seguir em frente.
Mas a vida é
cheia de surpresas. E quando eu menos esperava perdi alguém a quem muito estimava.
Por algum momento o chão sai debaixo de seus pés, as palavras se acabam, o céu
toma tons de cinza e sol parece sempre estar no inverno. Diante disso voltaram
a mim os questionamentos, não os mesmos, novas perguntas que trouxeram de novo as
dúvidas, as ansiedades, as angústias.
Acreditei
fortemente que diante de tal situação o que mais eu faria seria escrever.
Colocar no papel toda aquela agitação que estava em minha mente. Mas o que mais
me faltou foram as palavras, os verbos, os substantivos. Faltou a mim a razão,
a filosofia, a lógica, o óbvio. Então, chega a mim, com fiéis escudeiros, a
mais bela das artes: a música. No momento em que imaginei não ter forças para
escrever, consegui encontrar motivos para cantar. E para cantar nem sempre o
motivo será de alegria. A tristeza também é motivo de canto, de beleza, de
reverência. Na profissão, no íntimo, no divertimento, no passeio, nas noites sem
sono, no trajeto de volta para casa, nos finais de semana, no banho. A música
me acompanhou e me fortaleceu de maneira que eu jamais achei que pudesse
enfrentar. Me trouxe esperança, alegria, e me mostrou lá no horizonte, o sol
nascendo outra vez.
Depois de tudo
isso, comecei a refletir sobre o nome deste blog, Acorde Filosófico. Nem mesmo
eu imaginava que este nome seria tão real em minha vida. Eu nasci na música, e
morrerei com ela. O belo, o poético, a simplicidade, a esperança. Seja para o
espírito, seja para o coração, não consigo mais viver sem a música ao meu lado.
E do outro lado está a reflexão, a filosofia que me faz fascinar pela vida, que
me encanta com suas indagações, sua maneira de aprofundar a aventura humana, de
descobrir um pouquinho dos mistérios dos encontros e das partidas. Acorde
Filosófico. Minha vida é essa: Música e Filosofia. Se algum dia eu deixar de
escrever, estarei cantando, e se eu não cantar, escrevo o meu canto. Escrevendo
e cantando, e seguindo a canção.
Que venha um
novo ano. Cheio de palavras, de notas, de frases e melodias. Espero contar com
a sua companhia nessas novas descobertas. Abraços
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