5, 6, 7 e 8







Andava por aí sem saber muito bem pra onde ir. Estava tudo bem. Sempre estava tudo bem mas existia em seu íntimo uma inquietude que o deixava incompleto. Não sabia ao certo de onde vinha e muito menos pra onde ia tal sensação. Encontrou-se andando pela rua, sem rumo nem destino, observando os passos que se seguiam um após o outro. Ao longe ouviu uma música. Parou e atentou-se para descobrir qual era a música. Infelizmente não conhecia, a novidade aos ouvidos lhe chamou a atenção. Apressou os passos seguindo a intuição dos seus ouvidos, ansiosos por descobrir a origem de tal música. Uma esquina, duas, desceu a rua e encontrou. Fascinado, não conseguiu traduzir o que sentia naquele momento. Espanto e fascínio. Surpresa e encantamento.
Seus olhos se perderam em tantos movimentos. Eram braços erguidos em perfeição. Eram pernas tão flexíveis com movimentos encantadores. Era um conjunto de formas e leveza que nunca vira igual. Seus ouvidos tentavam acompanhar a música, seguindo a contagem: 5, 6, 7 e 8. Eram tantos os elementos deslumbrantes que ficaria ali por horas, afinal, não havia caminho a percorrer.
Mas o que mais o encantou não foram os plie’s nem mesmo a valsa da música clássica. Eram os olhos negros que contrastavam com a pele clara e macia. Era a boca carnuda e vermelha que acentuavam a beleza do rosto. Era a forma delicada do seu corpo que fazia consonância com a dança. Era a intensidade com que mergulhava na música e incorporava os movimentos do ballet. Era o olhar, intenso e acolhedor, que encontrou com o seu. Nesse momento abaixou a cabeça evitando o constrangimento, não queria que ela se desconcentrasse. Depois de alguns segundos voltou a admirar e lá estava ela, dançando, imergida na música que parecia tão sua, mergulhada num mundo totalmente seu. E de novo! Ela o olhou! E mais uma vez, evitou.
As horas se passaram e não soube dizer por quanto tempo ficou ali, parado, admirando a dança, a música, o olhar ... Ah aquele olhar. Por mais que evitasse o encontro dos olhos, dentro dele havia um sentimento ardente de olhar bem fundo naqueles negros olhos que fizeram aquietar o seu vazio. Momentos depois foi surpreendido por uma pequena multidão de dançarinas, que esvoaçantes saíam da escola, com conversar as alturas e risadas descontraídas. Encabulado e sem jeito, esperou de cabeças baixas até que avistou parar em sua frente, junto aos seus pés, um par de sapatilhas de tom rosa. Estremeceu por dentro e sentiu suas mãos suarem. Evitou levantar a cabeça, não saberia o que dizer.
Inesperadamente, ela pegou em suas mãos, delicadamente levantou seu rosto, acarinhou sua face e fez com que finalmente seus olhares se encontrassem. Beijou-lhe na bochecha e juntos começaram a andar pela rua: ele assobiando a tal valsa, ela contando seus passos: 5, 6, 7e 8.

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