O fim.

E ter a consciência de que tudo terá seu fim. Dolorido mas é a realidade. O dia de hoje foi cercado por reflexões, pensamentos e dores que traçam perguntas muitas delas sem respostas. Perda. Ida. Sem volta. Ou a volta de onde viemos.
Separações doem e em alguns casos se tornam traumáticos. Sejam definitivos ou não, para sempre ou só por um momento o instante da perda é algo dos quais muitos de nós não estão preparados. Sentimento de posse invicta que não permite derrotas. Destino que sempre mostra sua força diante dos mais frágeis seres, nós os humanos.
Admiração temos de ter pelos orientais que em suas filosofias trabalham dentro de si o vazio da perda, a certeza de que a morte vem, que é normal, talvez não natural como ela se dá, mas inevitável quando é a hora. Nós, ocidentais capitalistas dos sentimentos mortos e superficiais, choramos à perda, não choramos à vida.
A rotina e a ausência de sensibilidade nos causam dormência. Da alma. Do coração. Nossos interesses tornam-se mais importantes que a relação com o outro. Relações estas que precisam ser cultivadas tal qual uma delicada flor que exige paciência para seu fortalecimento. Pressa. Movimento. Velocidade. Fast-food. Sim, um verdadeiro fast-food emocional. Exigimos rapidez e qualidade, exclusividade e atualidade. Ora, sentimento exige além de cuidado, tempo. Tempo que cuida, que acalenta, que compreende, que espera.
Pois bem, apressados e egoístas, estressados e adormecidos, não nos atentamos para a mudança das estações, para a árvore florescendo, pelo sol adormecendo, pelo delicado movimento dos encontros afetivos, pelos pequenos gestos involuntários, pelos sorrisos espalhados por quem precisa de atenção. Deixamos de viver. Simplesmente, existimos. Então, quando a vida realmente se vai, choramos, angustiados, com o sentimento de nada ter feito, de que o tempo passou e não foi o suficiente para simplesmente dar aquele pequeno abraço. O tempo passou, as pessoas se foram, a perda chega e o vazio toma conta de nossos corações superficiais.
Deixo aqui uma frase de minha mãe: ”é preciso fazer enquanto se está vivo”. Sim, precisamos viver e este deve ser compartilhado. Viver isolado não é vida, é morte. Morrer em companhia não é morte, é renascimento. Que nossa tarefa cotidiana seja o de ganhar amigos, faturar sorrisos e aplicar alegrias. Que a vida que nos é ofertada não seja descartada e sim compartilhada. Que nosso corpo não seja somente para nosso desgaste empresarial e sim para atingir o outro com delicadeza e sensibilidade de sorrisos e abraços. Que nossa mente esteja sempre consciente de que tudo por aqui passa, o que simplesmente deixamos são as nossas obras. Que nosso coração esteja sempre limpo e puro para receber com afeto sentimentos e emoções que nem o tempo é capaz de colocar um fim.

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