Café da tarde

Todos os dias, no fim da tarde, sentavam à mesa para o café. Falavam de seus trabalhos, seus problemas e muito raramente, sobre seus dilemas. Eram muitos, eram poucos. Uma pequena confraternização cotidiana, sempre recheada de comida e conversas.
Olhares distantes, covardes, cheios de medo de serem encarados. Toques e afetos quase proibidos pela frieza da normalidade. Corações solitários que não ousaram quebrar a regra e se aventurar na deliciosa trama das emoções.
Sabiam todos sobre tudo, não sabiam porém o que sentiam. Se dor ou amor, se alegria ou euforia. Todos estavam desertos, áridos e secos. Prendiam-se aos retrógrados valores da tradição que imobilizava qualquer sentimento, que faziam acreditar que era melhor deixar pra lá, essa tal emoção desenfreada que tanto revelava aos seus corações. E tanto se afastaram que logo depois constataram que já não sentiam mais.

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