Ilusões ...

Estava pronta para sair. Salto alto e olhares distantes. Perfume novo e confusões antigas. Coração palpitante e mente atordoada. Tinha apenas uma certeza: precisava sair. Sair para conhecer o mundo, para encontrar pessoas diferentes, para se perder na multidão. Tinha medo de se encontrar. Tanto tempo tentando ser outra pessoa que não queria mais ser ela mesma.

Saiu. Fechou a porta. Guardou em casa conversas, abraços, afagos, afetos, doces, sabores, colo e calor. Sentimentos. Constrangimentos. Escondeu o que tinha de mais precioso. Não reconhecia mais suas atitudes. Não reconhecia mais seus sentimentos. Não reconhecia mais seu corpo, sua face, seu disfarce. Passou a chave na porta e agora tinha certeza de que seus fingimentos não seriam desmascarados, estavam trancados.

Divertiu-se. Por alguns momentos sentiu-se realizada, aproveitou cada segundo de sua ilusão e fazia de cada emoção um jogo árduo de fingir o que se sente. Carente. Mente. Sorrisos vazios, abraços frios, olhares fingidos. Conversas comuns, notícias antigas, assuntos envelhecidos. Cansou de jogar. Lembrou de seu lar e de tudo que ali havia deixado, sentiu saudades, resolveu voltar.

Teve pressa. Sentia que precisava correr, algo lhe dizia que não havia muito tempo, já o perdera demais. Deixou o carro na rua, subiu as escadas, colocou a chave na porta. Sentiu medo, hesitou em abrir. O coração palpitante fez com que suassem as mãos e suas pernas levemente trêmulas. Criou coragem e entrou. Encontrou descanso, refúgio, abrigo. Procurou, vasculhou, chorou. Pensou que não deveria ter saído, não deveria ter fingido, não deveria ter fugido. Procurou pelas conversas, abraços, afetos, doces, sabores, colo e calor que sempre recebera ao chegar em casa. Desta vez estava diferente. O vazio não era somente dentro de si, havia tomado conta da casa, sala, quarto e cozinha. Vazio. Frio.

Abriu a janela do quarto, deitou em sua cama e contemplou o céu estrelado. Ouviu em seu coração as doces palavras de um poema improvisado recitado por quem tanto lhe amou. Chorou. As lágrimas a fizeram entender que perdera um amor. Arrependeu-se de não dizer, que gostaria de ser, ela mesma se pudesse, enfrentar o medo e ser quem realmente se é.

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