Coisas miúdas ...

E por alguns momentos nos esquecemos da ternura que nos é tão peculiar. As coisas miúdas, de tão pequenas, podem se tornar esquecidas. Grande mesmo são seus efeitos, quando lembrados, maior ainda quando esquecidos. O sinal é sempre amarelo, é de alerta. Sinal verde é acomodação, segurança demasiada. Sinal vermelho é fim, já sem remédio, sem cura, é ferida.

Alguns dizem que o o mistério é essencial ao amor. Sem ele o cotidiano engole o frio na barriga, o suor das mãos, o coração palpitante. O desafio está feito: como amar, todos os dias, com toda força e vigor, mantendo o mistério sem esquecer das coisas miúdas? Certamente não é uma tarefa fácil.

Para exemplificar essa tarefa existem inúmeras analogias e parábolas, arrisco em dizer que amar, efetivamente é semelhante a um improviso, de guitarra talvez. É preciso estar no ritmo, dominar a harmonia, agradar o quem ouve e manter a cada nota a expectativa de algo novo e inesperado, não esquecendo de voltar ao tema original da música. Talvez esteja aí o segredo: voltar ao primeiro amor, ao primeiro olhar, ao primeiro toque, a primeira sensação. Ao longo do caminho nos esquecemos da causa primeira e nos projetamos ao fim, que não desejamos, mas que nos dedicamos pouco a pouco para ele.

A causa primeira do amor foram os olhos e a maneira como se tem os movimentos, sempre com leveza e magia. Nos olhos eu vejo o que as palavras não conseguem dizer, interpreto aquilo que a razão não consegue alcançar. Nos movimentos, vejo o que o que move, o que causa dor ou sofrimento, felicidade e alegria. Ao toque das mãos consigo entender como a inspiração surge na alma do poeta: no gesto, no afeto que somente os corações conseguem traduzir.

Que o caminho do amor esteja sempre voltada a causa original da paixão, que os olhos nunca se desviem para que possamos ler os escritos do coração, que os movimentos sejam ritmados pela música e admiração, que o toque esteja sempre ao alcance, oferecendo a certeza de que o amor será enquanto tentar!