Medo de ser?


E depois de tantos compromissos cumpridos foi preciso parar. Parar para pensar, pra refletir, pra escutar, pra observar. Parar pra curar-se. Parar encontrar-se. E fácil não foi, pois o mundo capitalista do qual vivemos exige cada vez mais velocidade, cada vez mais correria, cada vez mais de cada vez menos. Sim, fazemos muito, muito mais. Vivemos menos, muito menos. Sentir então, é quase uma habilidade em extinsão.
Para mim há duas coisas extremamente sábias: a natureza e o corpo. Corpo? Sim, o corpo. Ha, principalmente o meu. Não por saber mais definido, ou musculoso, estético, porque não é, mas por me parar quando estou prestes a extrapolar os meus limites. E desta vez não foi diferente. Bem perto de desrespeitar o meu limite, dessa vez minha mente parou. Assim, simplesmente parou. Parou de aceitar minhas invasões, parou de aceitar minhas agressões, parou de aceitar que eu não parava pra mim, que eu não parava pro meu corpo, que eu não parava pra minha mente, que eu não parava para o instante, que já se foi, não volta mais, e eu não o vi.
Sem corpo, sem mente, não havia outra saída a não ser parar. E parar neste momento significaria passar por cima do meu orgulho, do meu ego, da minha arrogância, da minha prepotência, da minha vida robotizada, da minha visão curta e deficiente. Em alguns momentos, não conseguimos enxergar que o erro não está nos outros, no trabalho, na família, na vida, e sim, em como lidamos com tudo isso. Dificilmente alguma coisa mudará se nossa postura continuar a mesma. Já dizia alguém:"que mudar o mundo? Comece mudando dentro de você!". E isso é verdade. Nós precisamos mudar cotidianamente. E como a mudança nos traz medo. É inacreditável o medo que temos de ser diferente, de não ser comum.
E este mesmo medo faz com que a gente aceite cada vez mais o que o outro quer, e aceite cada vez menos o que a gente é. Falho, fraco, inseguro, confuso, distraído, carente, doente, alegre, risonho, melancólico, deprimido, sofrido. Sozinho. HUMANO. Sim, que grande medo este que nos afeta, o de ser humano.
Humano sente, fica doente, é carente. Humano chora, ora e implora. Humano desiste, insiste, resiste. Humano é alegre. Humano é triste. Humano machuca, cutuca, fura e cura. Humano reza. Humano é complexo, convexo, sem nexo. Humano é inseguro, imaturo, e tem medo do escuro. Humano sente solidão, morre de paixão. Humano foi feito pra viver, e são poucos que assim fazem. Muitos de nós apenas sobrevive. E por que? Porque existir é ser. E ser humano é um dom raro, ofertado a poucos. Aos poucos que tem coragem de ser o que é. Que sente medo, mas que enfrenta, porque não há medo maior de ser tão comum ao ponto de sumir na multidão!

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